terça-feira, 31 de maio de 2016

O LADRÃO

                               Contradições de um homem ou tradições do homem?


 Silas me levou a uma reflexão, ao ler sua figura eloquente nas entrelinhas. Seu personagem carismático, de forte diafragma, possui o que se configura como virtude ou infâmia: grande capacidade de persuasão. Afinal, o corrupto torna-se corrupto ou já o é antes de ser corrompido? Se analisarmos a semântica num contexto e a sintaxe da palavra, corrupto sofre ação de um corruptor que o corrompe e/ou corrompe-se por essencial desonestidade, mal caratismo e ganância que foram adquiridas de fatores existenciais-materiais. Mas de fato, o corrupto nasce num ponto determinado do seu cenário existencial ou é um monstro que emerge de seu lago fétido e escuro? Qual dos Silas pronuncia palavras de seu âmago, mesmo que tenha discernimento entre o verdadeiro e a heresia, qual deles fala do que acredita? Veja, a metamorfose de um pastor em lobo:
Contradição 01 - Silas Malafaia antes e depois.

                                A prosperidade do burguês e o ópio do povo oprimido

 Para Marx, o mundo funciona sobre pilares econômicos. Moral, valores e tudo quanto é construção social está diretamente relacionada a produção e consumo de bens e a relação entre a classe burguesa e proletariados. Maniqueísmo? Não, não é tão simples assim. Os neoclássicos e outras vertentes da economia fogem dessa realidade, buscam mascaração dessa realidade, na visão dos primeiros o que existem são "agentes econômicos", uma perspectiva que traz uma metodologia analítica, mas de um eufemismo grotesco frente ao limbo das desigualdades sociais.  E o que dizer do suposto binarismo ultrapassado de Marx que divide em uma relação fundamental quem detém o poder, terras e bens e aqueles que vendem seu trabalho. Aqueles que querem aumentar lucros e aqueles que querem aumentar a renda. O que traz o equilíbrio de longo prazo entre as duas classes, o apaziguamento do rancor dos oprimidos? Transpus abaixo um manuscrito de sua autoria.

"É este o fundamento da crítica irreligiosa: o homem faz a religião, a religião não faz o homem. E a religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou não se encontrou ainda ou voltou a se perder. Mas o Homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. A religião é a teoria geral deste mundo, o seu resumo enciclopédico, a sua lógica em forma popular, o seu point d'honneur espiritualista, o seu entusiasmo, a sua sanção moral, o seu complemento solene, a sua base geral de consolação e de justificação. É a realização fantástica da essência humana, porque a essência humana não possui verdadeira realidade. Por conseguinte, a luta contra a religião é, indiretamente, a luta contra aquele mundo cujo aroma espiritual é a religião. A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. A religião é o ópio do povo."     
Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie), Karl Marx. Escrita em 1843 e publicada em 1844 no jornal Deutsch-Französischen Jahrbücher



 Consequências múltiplas derivam de causas e causas são cumulativas. Causas são dinâmicas e se sustentam em estruturas consolidadas, ideias concebidas. A investigação da causa nos levará, sempre, a uma causa fundamental. Se cavamos um poço e nele não há água é porque não cavamos o suficiente. Isso explica o aparente dualismo simplório de Marx, a sua busca é pela infraestrutura, pela priori das relações sociais que alavancam todo o funcionamento e pensamento, seja coletivo ou individual, numa cultura.

 Silas, como muitos outros, é o burguês que declarou amor ao Deus-modelo dos homens. Silas tornou-se o burguês que se alimenta de suas ovelhas ignorantes, cansadas, oprimidas no trabalho, das intempéries, do descaso, da desigualdade e da busca errante por uma felicidade que lhes é modelo imposto pela classe dominante, que é:  o homem é aquilo que possui. Se pouco possuis, pouco és, se nada possuis...
A religião é um excelente negócio. E nas palavras de Jesus, em João capítulo 10:

  1. Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador.
  2. Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas.
  3. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora.
  4. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz.
  5. Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos.
  6. Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles não entenderam o que era que lhes dizia.
  7. Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas.
  8. Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram.
  9. Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens.
  10. O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.
  11. Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.
  12. Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas.
  13. Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas